top of page

Humm! Que gostinho bom.

Atualizado: há 3 dias

No verão, quase todos os fins de semana, o pai ia pescar. E eu era como um caniço, um anzol, isca, uma panela (ele levava para o acampamento apenas uma panela), um facão, enfim, as coisas essenciais que ele levava para pescar. Só levava coisas essenciais e eu era uma delas. Não havia convite, nem ordem imposta, era um movimento, eu diria hoje em dia, transcendental, osmótico, natural. Aquele gurizinho ia junto com o pai, pescar sem haver um anúncio anterior "amanhã vamos pescar, te prepara". Não precisava.


Era num açude, ou na Lagoa dos Patos. Às vezes no Rio Gravataí, no Guaíba ou Jacuí. Neste a gente tinha que ir de barca, o negão forte e simpático, mais calado do que uma porta, amigo do pai e se entendiam só por olhares, empurrava aquela barca enorme com os punhos soldados num caibro redondo afundado na lama do rio. Depois a motor, ia fazendo um barulho gostoso rio acima e o pai pedia pare ele nos deixar em algum lugar que só ele sabia, um pesqueiro que segundo ele "ali daria peixe". E o pai sabia qual o peixe que ia "dar". Traíra, Jundiá... E Branquinhas, essas a gente pegava quando a pesca era no açude e íamos bem para o pé da barragem, o pai jogava a linha com uns quatro ou cinco anzóis, o caniço feito por ele mesmo, de taquara; as chumbadas também ele moldava, e os nós nos anzóis que eu aprendia só olhando - até hoje, quando dou um lais de guia ou nó de pescador, lembro que aprendi com o pai.


Dá pra escrever um livro daquelas pescarias. Acontecia cada uma!


E o pai levava sempre uma garrafa de caninha preparada por ele. Com butiá, com araça, ou carregada no café, temperadas, como ele dizia enquanto brincava de prepará-las, com melado trazido lá de Santo Antônio da Patrulha, no final jogava canelas quebradas e deixava no barril de madeira meses antes de engarrafar... E eu aprendi a preparar as cachacinhas com ele. Pra mim ele levantava as sobrancelhas e me dava só uma colherinha miúda. Humm! Que gostinho bom.


Saudade, lembranças boas, quantas coisas aprendi com o pai. Não tem preço. www.luispeaze.com/captlui




1 Comment

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
Helga
Helga
há 3 dias
Rated 5 out of 5 stars.

Adorei!❤️E o café licor é uma delícia!👏👏👏

Like

©1997/2025 by Luis Peazê       Contatos

oPONTO NEWS & LIVROS 

Luís Peazê: Escritor, Jornalista, Tradutor

www.luispeaze.com 

bottom of page