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Noticia e Informacao contextualizadas
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Tesouros no Fundo de Quintal: você nunca mais vai comprar produto de massa como comprava antes


Ao criar o título acima, lembrei da minha infância. Eu cuidava de dois porcos que meu avô criava para "carnear" no fim do ano, aproveitávamos tudo daqueles abençoados animais, couro e até a bexiga que eu fazia uma bola para jogar; vovô plantava, prepare-se para duvidar: milho, mandioca, feijão, vagem, batata (você já arrancou batata?), doce e inglesa, couve, alface, cenoura, beterraba, abóbora de pescoço, moranga e mogango; mantinha um limoeiro, um pé de ameixa, uma pequena parreira de uvas vermelhas, amoreira carregada, melão, e certamente minha irmã lerá aqui e dirá que esqueci algo... Não, não morávamos numa chácara, era um terreno de subúrbio, Niterói, Canoas, RGS, mas como meu avô foi capataz de uma das Fazendas do General Zeca Neto (isto, um dos personagens de O Tempo e O Vento), se dessem um lenço para ele, ele alementaria uma família com o próprio suor, e eu aprendi um pouco com ele; um dia lhe perguntei porque não plantava arroz, eu era criança e não tinha noção de espaço. Ele sorriu, fez um esgar e no dia seguinte me chamou para um cantinho ao lado da casa, um metro quadrado e ali fez uma mini plantação de arroz, no método alagado, para me mostrar como era plantar arroz...

Mais à frente meu pai, que não ficava atrás de meu avò em termos de lavoura, me contou como a cultura da soja invadiu o Rio Grande do Sul roubando terras do arroz e outras culturas, e na mesma época o fumo fez a mesma coisa; os agricultores ganhavam um punhadinho de sementes para testar e ver como era "rentável" o cultivo daqueles produtos... Nunca mais se viu agricultura familiar em grande escala, isto é, quando as famílias eram grandes, e agregadas em torno de si mesmas...

Ontem, enquanto visitava meu amigo Orlando, um gênio da mecânica de combustão, ex-toureiro, nascido em Vila Franca de Xira, dentro de sua pequena oficina me mostrou uma caixinha onde cultiva caracóis e ao pé da porta de entrada um conteiner de plástico, onde ele conserva azeitonas apanhadas no mato, e me deu a receita, isso tudo no exato momento quando recebo a notícia que segue, do publicitário e marketing man amigo Rogério Ruschel. Com ele a palavra:

- Começa hoje “Tesouros no Fundo do Quintal - TNFDQ”, feito em parceria com a Agência Digital Sopa.ag (do Diego Campos) e a produtora Umbrella Production (do Luke Martins) . O TNFDQ é o primeiro projeto integrado de comunicação & marketing do Brasil com foco na valorização de produtos autênticos, com identidade, e no turismo que valoriza o território, a cultura e a comunidade. Inspirado no meu livro “O valor global do produto local”, Tesouros no Fundo do Quintal terá vídeos no YouTube, posts no Instagram e Facebook e matérias no In Vino Viajas. Vamos mostrar a importância dos tesouros que as pessoas tem no seu “quintal”, mas que nem sempre percebem seu verdadeiro valor. Já gravamos 11 vídeos falando de frutas, bebidas, locais, músicas, pessoas, conhecimentos e heranças culturais; de patrimônios tangíveis e intangíveis, de qualidade de vida, de amor ao “seu” local de origem. Vem comigo cavar tesouros:

Acordo histórico entre União Europeia e China protege 200 a Geografia Alimentar Familiar

by Rogério Ruschel

Meu caro leitor ou leitora, a cada dia fica mais óbvia a importância de se agregar uma denominação de origem a produtos agroalimentos como forma de diferenciação e valorização em um mercado global de commodities. Tenho reiterado isso aqui no “In Vino Viajas”, no meu livro “O valor Global do Produto local”, da Editora Senac, e em palestras que venho fazendo sobre o tema em geral e sobre o Acordo Mercosul X União Europeia em particular. Aliás, a China é o maior parceiro comercial do Brasil e já tinha apresentado em 2018 seu interesse em um acordo com o Brasil envolvendo 100 de suas Indicações Geográficas; então acho que em breve teremos novidades.

REPRODUZIDO DO MAIOR SITE TEMÁTICO TURISMO CULTURAL E ENOLOGIA "In Vino Viajas"

Pois dia 6 de novembro de 2019 foi formalizado um acordo bilateral de enorme importância econômica e estratégica que podemos considerar histórico porque vai proteger 100 indicações geográficas europeias na China e 100 indicações geográficas chinesas na União Europeia (UE) contra imitações e falsificações. Quer dizer: os chineses não vão poder produzir e comercializar queijos “tipo camembert” ou presuntos “tipo pata negra” e em compensação os europeus não vão poder produzir e comercializar “chá branco tipo Anji Bai Cha” ou “arroz tipo Panjin Da Mi”. O acordo agora será aprovado formalmente pelas partes: a UE pretende obter a aprovação do Parlamento Europeu até o final de 2020.

Os acordos visam proteger designações específicas de produtos para promover suas características únicas, vinculadas à sua origem geográfica e ao know-how tradicional – que obviamente agregam valor porque diferenciam os produtos da gigantesco cenário de commodities alimentícias. E vai ser ampliado: quatro anos após a sua entrada em vigor, será estendido para abranger outras 175 indicações geográficas de ambas as partes. Essas denominações devem seguir o mesmo procedimento de registro que as 100 denominações iniciais de cada parte já cobertas pelo acordo inicial. Os quadros abaixo identificam a IG europeia e seu nome em chinês.

Enquanto no Brasil consideramos mais importante a exportação de alimentos sem valor agregado, como commodities, que tem financiamento oficial e apoio governamental de todos os tipos, os agroalimentos de origem da Agricultura Familiar são um dos grandes trunfos da agricultura europeia porque preservam cultura, geram empregos e receitas, diminuem a migração de pessoas para as cidades e oferecem uma série de benefícios.

A União Europeia possui mais de 3.300 denominações registradas como indicação geográfica protegida (IGP) ou denominação de origem protegida (DOP); no Brasil não chegam a 70. As indicações geográficas da UE têm um valor de mercado de cerca de 74,8 bilhões de Euros e representam 15,4% do total das exportações de alimentos e bebidas da UE; no Brasil ainda não temos dados oficiais. Além disso, existem cerca de 1.250 denominações de países terceiros protegidos na UE, principalmente devido a acordos bilaterais como o que acaba de ser assinado com a China.

Os europeus perceberam que os Estados Unidos estão se isolando por conta própria. O presidente Trump faz questão de inimizar com a China que é o segundo destino para as exportações agroalimentares da UE, com um valor de 12,8 bilhões de Euros no período de doze meses entre setembro de 2018 e agosto de 2019. É também o segundo destino para as exportações dos europeus de produtos protegidos, como indicações geográficas, que representam 9% do seu valor, incluindo vinhos, produtos agroalimentares e bebidas espirituosas.

O mercado chinês tem um alto potencial de crescimento para alimentos e bebidas de qualidade como os europeus, com uma classe média afluente e crescente que aprecia produtos europeus autênticos, emblemáticos e de qualidade. Os chineses também possuiem seu próprio sistema de indicações geográficas bem estabelecido, com especialidades que os consumidores europeus agora podem descobrir graças a este acordo. Produtos como espumante, champanhe, queijo feta, uísque irlandês, Polska Wódka, Porto, presunto de Parma e queijo Manchego estão incluídos na lista de indicações geográficas a serem protegidas na China. Entre os produtos chineses, a lista inclui, por exemplo, Pixan Dou Ban (pasta de feijão Pixian), Anji Bai Cha (chá branco Anji), Panjin Da Mi (arroz Panjin) e Anqiu Da Jiang (gengibre Anqiu).

A cooperação entre a UE e a China em indicações geográficas começou há mais de dez anos em 2006 e resultou no registro e proteção por ambas as partes de dez denominações de indicações geográficas em 2012, que lançaram as bases da cooperação atual.

Enquanto isso no Brasil é lenta a mobilização para aprovar internamente o Acordo Mercosul com a União Europeia e também não nos mobilizamos para dotar nossa Agricultura Familiar de recursos de inteligência de mercado para poder competir em um mercado global; nossas famílias de agricultores continuam dependentes de políticas públicas paternalistas como compra para merenda escolar e preços mínimos. O mundo gira, a fila anda. E o comércio se sofistica.

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Rogério Ruschel é Jornalista, palestrante, professor e consultor de turismo, enoturismo e turismo sustentável. Editor de In Vino Viajas, dedicado a Enoturismo, Cultura do vinho e Turismo de qualidade, o 8o. mais visitado site sobre vinhos do Brasil e o mais internacional da America Latina, com leitores em 134 países.

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