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Noticia e Informacao contextualizadas
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Vai ser boa assim na Ilha do Pico. Proibido para menores de 18.


Segundo o nobre dicionarista, Antônio Houaiss, com quem tive o privilégio de conversar algumas vezes informalmente até, há mais de 700 nomes válidados para a vulva e imediações, e apenas duas ou três centenas de nomes sem graça para o bráulio. Mas nenhum desses dois objetos de investigação científica goza do fato de ter alcunhas que iniciem por cada letra do alfabeto, como a velha cachaça, aliás tão velha quanto a mais velha das profissões sobre a Terra, da idade da pedra. Esse manancial de alcunhas da bebida aguardente eu encontrei no blog do mineiro Rafael Araújo, co-fundador da Cachaçaria Nacional (Brasil) que, segundo ele próprio diz, é a maior loja online do mundo, de aguardentes, com mais de 2000 rótulos disponíveis.


Vamos começar do início?


Sem mudar da água para o vinho, nem retornar à parábola bíblica em que Jesus transformou H2O na santa bebida adotada pelos padres, “e da pedra se fez o vinho” é uma frase repetida nos Açores, onde todas as ilhas são de origem vulcânica, arquipélago que é na verdade a crista da espinha dorsal do planeta. Tal espinha foi cunhada com um nome feio pelos Geólogos e Oceanógrafos, Dorsal Meso-Atlântica… Explico: a dorsal é uma cordilheira submarina esticada entre o recôndito sul do Atlântico até o extremo norte do Ártico. Uma linha vertebral que separa as placas tectónicas, que são uma espécie de mapa mundial escondido; enquanto os oceanos separam continentes emergentes e emergidos, aquelas placas separam o verdadeiro chão de onde viemos e para onde vamos. Sabe mais? Dizem as más línguas que essas placas se movimentam à taxa de 2 a 10 cm por ano. Não é por acaso que os vulcões continuam entrando em erupção e abalos sísmicos assustam o mundo todo ano. Pois, na Ilha do Pico, nos Açores, se repete mais do que em todo o arquipélago a tal frase “e da pedra se fez o vinho”. E a bebidas dos deuses, como se sabe, dista da idade da pedra, 8000 anos antes de Cristo, porque era com pedras que se amassava as uvas para então fermentá-las e embebedar Bacchus.


Fastforward, em meados do século XIX, quando Açores já era uma região de Portugal consolidada como um dos lugares que produziam os melhores vinhos entre o céu e a Terra, veio uma praga dos Estados Unidos, o fungo Oídio, e dizimou as cepas dos vinhedos. Puff. Com aquilo, mais erupções e terremotos, só mesmo a persistência do povo açoriano, portugueses duas vezes, para continuar habitando aquelas ilhas remotas. Deram um jeito. Mantida por algum tempo, apenas, a caça à baleia, típica da região, insistiram na agropecuária e se reinventaram, começaram a plantar laranja, amoras e figos, e daí surgiu mais um jeito de se embebedar, porque chega a hora que só um porre para aguentar certas coisas, ou comemorar realizações na vida. Foi assim que nasceu a tradição dos melhores destilados do mundo, nos Açores.


Pois, na última sexta-feira, tarde da noite, recebo o contato do amigo Cesar Ferreira, Diretor de Marketing da Adega Sant´Ana, da Ilha do Pico, para dar-me em primeira mão uma notícia digna de uns copos. Sua empresa participou de uma competição por qualidade e excelência e conquistou cinco medalhas no 10° Concurso Nacional de Licores Tradicionais organizado pelo CNEMA - Centro Nacional de Exposições e pelo Qualifica oriGIn Portugal*. Isto mesmo, cinco medalhas; três de Bronze para o Licor de Ananás, Licor de Mel e Licor de Limão; uma Prata para o Licor de Nêveda, para quem não sabe é uma planta típica dos açores, conhecida como erva da azeitona, e o Ouro para o Licor de Amora, exatamente o primeiro licor e de receita própria produzido no alambique do Sr. Hélder Silveira, desde 1994, e sua esposa Leonilda Silveira (Contato Adega Sant´Ana - +351 910 792 069 - adegadesantana@gmail.com )


Naturais do concelho de S. Roque, começaram o alambique, na zona de Sant’Ana e onde, até hoje está situada a sede da Adega de Sant´Ana, com 25 anos de atividade. Isso tudo eu ouvi do próprio Cesar Ferreira, entusiasmado com toda a razão, e que ainda encontrou tempo para me deixar com água na boca descrevendo um produto que vem guardando um pouco em segredo, dado o carinho com que a Adega de Santana vem produzindo; a Aguardente de Tangerina com método próprio de maturação e destilaria. Não é pouco. Explicado o porque do título?


A Paisagem das Culturas da Ilha do Pico foi declarada património mundial pela UNESCO. A classificação abarca vinhas heróicas criadas em solos de rocha vulcânica e onde se produzem vinhos únicos, tal como o sistema de cultivo em currais de pedra de lava. A Ilha do Pico é a mais nova ilha a ser formada na Dorsal Atlântica, com cerca de 300 mil anos. A chamada ilha cinzenta, devido às erupções vulcânicas que deram origem a extensos campos de lava negra. A montanha do Pico, que lhe dá a marca inconfundível, com certa de 2351 m de altitude, ponto mais alto de Portugal, é um vulcão que ainda está ativo, felizmente adormecido.

A Ilha do Pico foi primeiro habitada por portugueses em meados do século XIV, e há várias versões desse começo. Uma que eu gosto é a de que chegadas as naus ao arquipélago, um dos marinheiros fez à terra com o seu cão e, antes que os demais marinheiros lhe seguissem, a região foi assolada por forte tempestade que durou dias, ao final dos quais o homem e seu cão não mais viram as embarcações no horizonte e o homem permaneceu sobrevivendo como pode por muitos anos, caçando, pescando e cultivando a terra em tão hostil quanto fantástico ambiente natural.


Olhe, este que escreve estas tortas linhas, com um copo quase vazio ao lado, já cruzou mares num veleiro construído com as próprias mãos e de sua esposa, e pode dizer-lhe: não há nada igual a chegar numa ilha e conhecê-la como se a estivesse descobrindo para o mundo pela primeira vez. Fez isto em várias ilhas do Mar de Timor e na costa australiana que já é remota por si só do resto do mundo, tendo que vencer correntes fortes e ventos de toda a sorte semanas no mar, romance autobiográfico narrado em Alvídia - Um Horizonte a Mais. Por falar em ilha, alí pertinho do Pico, no Faial, o famoso para todo cruzeirista Peter´s Café abrigou o Alvídia, mas essa é outra história...

A Ilha do Pico dista 1000 milhas do continente português, europeu. Ora, o mais longe que eu cruzei em um barco sem ancorar em algum lugar foram algumas centenas de milhas. Posso garantir: se os poetas estiverem certos sobre ser feliz, “a felicidade quanto mais remota a se alcançar tanto melhor será quando se o consegue”.

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ASSOCIAÇÃO QUALIFICA / oriGIn Portugal é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, que visa a valorização, qualificação, defesa, promoção e dignificação da identidade dos Produtos Tradicionais Portugueses. A QUALIFICA é uma secção portuguesa do Movimento Internacional oriGIn – organização não governamental, criada em 2003, para responder ao fenómeno crescente das usurpações que afectam as Indicações Geográficas (IG ou, em terminologia inglesa, GI).


O oriGIn representa mais de 400 Agrupamentos de Produtores de IGs, provenientes de mais de 40 países. A constituição da secção portuguesa do oriGIn tem como objectivo estruturar ao máximo os Agrupamentos de Produtores gestores de IGs, dando-lhes força e capacidade de luta contra prepotências, fraudes e usurpações bem como defender e promover as IGs portuguesas em todo o mundo, nomeadamente através da rede internacional do oriGIn.



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