Nasci assim, dizer o quê?
- Luís Peazê
- há 12 minutos
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Dizem as más línguas que ela nasceu mais ou menos quando os ambientes virtuais trafegando pela Internet (ambientes trafegando?) começaram a eclodir já maduros. – É, antes demorava algum tempo, para que cada ambiente ficasse robusto, quiçá consolidado. A maioria morria na encubadora. Aliás, “encubadora” tornou-se um objetivo de vida, viesse a florescer ou não. A ponto de um ser “dez pras duas” qualquer ganhar bastante dinheiro apenas encubado.
Mas vamos lá, contar a história dela, no Brasil, onde tudo nasce ao contrário, ao avesso, ou torto para andar direito, como dizem os carpinteiros navais amadores do Maranhão, embora eles se refiram a um arquétipo maravilhoso; no Brasil a coisa cai e vira outra coisa. Foi assim com o café, com a cana de açúcar, com o futebol, com a macumba, com o samba, até o rap tornou-se outra coisa aqui, misturando-se com música de boiadeiro. Nada contra, mas…
Na Europa ela espalhou-se sem grande dificuldade, aparentemente, e revestiu-se de inclinações e declinações infectadas por fraturas sintaxiais e palatais, devido à tendência gutural do Europeu, vikings, vizigodos, mouros e os cambaus… Em suma, ela não ficou muito diferente, ficou apenas mais ancuda.
Na África adquiriu véus da savana, melosos e com uma irreverência adocicada. Nos países árabes e ocidentais ficou toda picadinha, a comem com as mãos, em pedaços curtos, e ou agachados sobre os calcanhares. Não foi muito modificada, afinal de contas, apenas entrecortada, coitadinha.
Mas no Brasil, tivemos o exercício histórico de modificar o “português”, um ensaio pré era “techfin”.
Dizem que durou um fim de semana na paulicéia desvairada (todos 22, origiem da gíria “louco”, isentados porque havia o Artigo 22 do Código Penal generoso com incapazes mentais que eventualmente cometessem algum delito), e a língua portuguesa nunca mais seria a mesma. – Aí, óh, valeu! Quer dizer tudo, ou qualquer coisa… Mas quando a língua inglesa furou o útero social, acordou em plena comunidade, nas esquinas próximas de escolas, nos bares à noite junto a estimulantes de toda sorte, tik-tok incluído, instagrã, ou insta, zap e face, pronto, a refizemos, foi a refazenda. O inglês nunca mais seria o mesmo, viu? - Era uma língua, aqui ela perdeu o sexo, o gênero, adquiriu todas as letras do alfabeto em qualquer ordem, para todos os gostos.
Estamos em pleno 2025, a primavera rebentando seus primeiros brotos prematuros e se ouve em qualquer via pública, esteira de gente em pontos de coletivos sobre trilhos, no interior de transportes privados compartilhados, fila de caixa de supermercado, na calçada suja aglomerada onde até moradores de rua (morador de rua?) a utilizam. Vejamos:
- Ai laique dét ou dês! If iu want I uil do. Bicós I donti nou, brô. Quê erre coudi…
Claro, como ainda não chegou o verão, essa nova língua inglesa traz nos resíduos da placenta os famigerados “Valeu!”, “Blz e kkk” (estes, cá entre nós, se tentarmos lê-los ao pé da letra não têm som algum além do soar de um peido com a os lábios; tente)... Mas eles se diluirão em breve, o mundo será outro daqui a cinco, dez anos, e a língua inglesa abrasileirada uil bi ei mãst.
Landing venue para o II Simpósio do Semblante Nacional; quem leu o primeiro gostou.
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