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Da Gaiuta à Paquetá, o melhor da Costa Verde e o imaginário mágico da Baía da Guanabara

Atualizado: há 4 dias


Marina Gaiuta, "a melhor da Costa Verde"
Marina Gaiuta, "a melhor da Costa Verde"

Comprei os planos de um cat 25 do Mark Waller, mas não encontrei a tempo lugar bom para construí-lo. A tempo bem entendido porque não aguentava mais estar longe de um barco. Então consegui uma opção razoável, um Alpha 20 que eu vou "reparar alguns arranhões que a vida anterior lhe deu, e, após pedir licença a Netuno e Iemanjá, rebatizá-lo com o nome HELGA 2". Curiosamente eu iria finalmente realizar o sonho de velejar na Baía da Guanabara num barquinho meu, no momento em que celebro 30 anos do "Alvídia - Um Horizonte a Mais" que deveria ser chamado de Helga 2; quem leu sabe.


E foi assim que começou a minha modesta aventura, e não recomendo a ninguém copiá-la. A realizei por causa de inúmeras conjecturas e circunstâncias pessoais, mas definitivamente não é aconselhável fazer do modo como eu fiz. Isto é, receber o barquinho das mãos do antigo dono, cuja pouca experiência de vela não lhe permitiu me dar um bom briefing do barco; e os problemas visíveis enlistados incluiam uma mestra engripada, um enrolador em desuso e sem genoa, um casco repleto de cracas e muito, muito desarrumadinho e sujinho por dentro, uma pena porque como as aparências enganam, ele provou estar preparado para entrar em campo e jogar de igual para igual com o que viesse pela frente; desde que um sonhador incorrigível estivesse com a mão ao leme.

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Dia 16/07/2025 cheguei ao Brachuy com uma mochila enorme de coisas pessoais, ferramentas e alimentos, e deixei meu Clio estacionado no condomínio onde o Helga 2 me esperava para nosso engajamento matrimonial. Apertos de mão com o antigo dono e ficamos a sós, eu e ela, para sair do píer e abastecer. Eu era virgem naquele canal, assim com nunca tinha andado na Costa Verde em qualquer ponto, de veleiro. Aliás, desde antes da pandemia eu não velejava, a última vez tinha sido no velho Rio Tejo, em Portugal.


Sem cartas e sem lenço, ao vento, sem instrumentos e sem juízo consegui abordar o píer da bomba de gasolina e acho que ninguém naqueles iates enormes e casas suntuosas percebeu o quanto eu estava atrapalhado. - Ok, passei no primeiro teste e segui para o primeiro Way Point mental: Mangaratiba, onde eu içaria o Helga 2 fora d´água para pintar uma anti-incrustante e seguir para o Rio.


Como auxílio de navegação eu contava com minha irresponsabilidade e um App versão gratuita da Garmin; o Otto Greinacher, CEO da GARMIN, me prometera um bom desconto mas não correspondeu a tempo, por isso fui daquele jeito mesmo; o App mostra apenas os contornos geodésicos de uma dada região, em larga escala (sem detalhes), toma emprestado o GPS de seu cellphone e aponta uma setinha copiando a proa do seu barco. Também contava com Cartas Raster da Marinha do Brasil, que aliás são muito boas. - Mas aí mora o perigo: técnica e teoria são uma coisa, porém, quando você é tomado pelas cores e formas verdes reais daquele santuário que é a Costa Verde dentro do mar, ou você fica inebriado ou se perde completamente sem saber se está vendo uma ilha, uma ponta, um pedaço do continente ou uma sombra de uma ou mais ilhas no horizonte incerto ao longe, ou a meia distância incalculável. É mais ou menos como ficar cego no meio de um tiroteio, se entrar vento e se o mar começar a fazer marolinhas num barco que você não havia se dado conta que é leve como uma pluma. Haja coração nos altos de 67 voltas em torno do sol, que deveriam sinalizar ponderação...


Eu tinha pensado "dormir" na ponta norte da Ilha Grande, e encetar dali rumo a Mangaratiba (racional terráqueo), mas após hora e meia motorando - contra a vontade porque não gosto de ruído e vibração de motor - que me pareceram estar a bordo uma tarde inteira, pensei bem e achei melhor uma opção mais próxima, onde eu podia ver barcos parecendo abrigar sonolentos e preguiçosos marujos como eu sou na verdade. Dormi ali desfrutando das lembranças de vida a bordo vindo à tona e me inserindo gradualmente no ambiente marinho.


Curiosidade que a gente diz "só acontece comigo", e com duendes: chama-se aquele lugarzinho gostoso onde joguei ferro "Ilha de Paquetá", com bar flutuante e um furo (depressão) na ilha que faz aparecer o outro lado, bem no meio, uma cópia da geografia da verdadeira Paquetá, justamente meu destino final.


Dia 17/07/2025 e o primeiro susto aconteceu: lá pelas 3h da madruga, acordei e senti algo; imediatamente abri a gaiuta de proa e chequei a posição do barco, memorizada antes de vestir o pijama; nós havíamos nos arrastado junto com as ondinhas para bem longe de onde eu atirei a âncora Danforth de 3kg (peso e tamanho insuficientes), errôneamente instalada com três metros de corrente enferrujada - dizem as boas línguas que Danforth e corrente são incompatíveis. Corre, bate com a cabeça no teto da cabine, liga o motor, ele só pega na quinta puxada, voa para a proa, caça o cabo de âncora, volta, engrena o motor e senta para respirar; procura o mesmo ponto para ancorar, faz a aproximação, vai lá e joga aquela âncora e uma outra sobressalente de 2kg mas com um cabo de nylon sem corrente. Agora com essas duas nanicas eu acho que o Helga 2 vai ficar parado enquanto eu durmo mais um pouquinho.


Dormir nada, fiquei conversando com meus botões e decidimos tomar café e rumar para Mangaratiba. Vamos!


Ok, mais um teste de alinhamento comportamental e psicológico a bordo; passei com boa nota. Após o café solúvel frio com leite, pão com melado e bananas, avisei a Marina Gaiúta, em Mangaratiba, que estaria chegando ao meio da tarde ou final do dia e que na manhã seguinte eu estaria pronto para ser içado com barco e tudo em seco - havia sido nosso planejamento de semanas atrás. E foi aqui que surgiram duas figuras humanas especias que fizeram desta modesta aventura uma rica experiência de vida.


Marcelo e Miltinho, os irmãos Bessa donos da Marina Gaiúta me deram a impressão de terem me adotado, como a um órfão, ou cachorro que caiu da mudança.


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18/07/2025 Fomos içados em seco e tão logo me foi possível eu agendei um taxi para me levar de volta ao Brachuy e pegar meu Clio, levá-lo para junto de nós, Helga 2 e eu. Cristiano, ex-gerente comercial da Pet Industry, recomendo como TAXI em Mangaratiba e vizinhanças. Que nobreza! No dia seguinte começaria a faina de verdade.


19/07/2025 - Quanta diferança é você estar numa Marina de carne e osso, e não apenas um "business" impessoal. O ambiente náutico, marinheiro, é talvez como os hospitais e igrejas, não pode precindir do toque humano, do tratamento colorido por alguma dose de altruismo e prazer pela atividade profissional.


22/07/2025 três dias que voaram, e me remeteram à River Quays, na Austrália, quando levei "Alvídia" ainda na bolsa amniótica recém rompida, para acabá-lo numa vaga molhada.


- Ok, venenosa pintada com inúmeras dicas e apoio do Marcelo e do Miltinho, voei para o Rio, estacionar meu Clio, ver a Helga 1 e, tentando manter o "momentum" ambiental, da mente e do físico, voei de volta para Guaratiba, no dia seguinte. Aí foi assim, uma aventura dentro daquela aventura: metrô até a Central do Brasil, ônibus para Itaguaí, ônibus para Guaratiba, taxi para a Marina Gaiúta, com direito a passagem pelo supermercado e abastecimento de alimento e produtos de limpeza; que peninha o Helga 2 ainda estar tão sujinho.

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Muito significativo, em plena manhã de terça-feira, 7h, a rodoviária para Itaguaí, atrás da Central do Brasil, uma erupção urbana caótica, insalubre, bares improvisados, mendigos e drogados misturados a trabalhadores, sons de instrumentos musicais sem harmonia qualquer e vozes gritando frases com rima induzida a facão, mistura de conteúdo vaqueiro, romantismo de bordel e métrica gutural forçada para atingir uma "voz de cabeça" acefálica. Só isto não, bandeirinhas de São João decorando aqueles bares e num deles uma mesa repleta de garrafas de cerveja, ao redor duas mulheres na faixa aí dos 30 e poucos, dançando Tik Tok com copos daquele líquido amarelo presos pelo polegar e anular, o minguinho solto no ar. - Eu perguntei pra mim mesmo: o que essa gente faz pra viver, que gosto, o que é isso meu Deus?


Já, no ônibus, a meio caminho na altura da Vila Vintém, um vendedor de Passoquinha me comoveu; magro, cabelos grisalhos, minha idade talvez, uma caixa enorme de isopor pendurada no ombro, anunciando baixinho o seu produto. Não comprei "pra ajudar" porque não como passoquinha industrializada nem recomendo, mas rezei de verdade para aquele homem.


23/07/2025 Miltinho me ajuda a construir um novo suporte para o motor de popa Mercury 8HP. Aquela tabuinha não estava me agradando. Ressecada, rachada, descascada, eu poderia perder o motor...


Faina no interior do Helga 2, arreda pra cá, empurra pra lá, troca de lugar, vistoria o casco nos cantinhos, descobre que merece um aspirador, uma boa limpeza com sabão e nova pintura, e o Miltinho mais uma vez me ajudando com o empréstimo a vela de um Holder, para eu utilizar como "falsa buja" no lugar da ausente genoa. Isso mesmo, em marinas, em barcos, você pode mudar o que está fazendo a qualquer momento, as pernas ficam grossas de tanto que você sobe e desce. Para isso tive que preparar a velinha com cabinhos para depois içá-la em entorno do trilho do enrolador; comprei cabos para as escotas dessa nova personagem a bordo, e ouras coisinhas, como melhorar o mordedor, etc; e tive que ir no mato com facão na mão cortar varinhas de bamboo para imitar talas, que a vela perdera; parecia que tudo ao meu alcance havia caído no lugar, do céu; o que não caia ficava a ver navios. - Ok, eu poderia no dia seguinte ir para água novamente com o Helga 2 e zarpar para a verdadeira Ilha de Paquetá, no Rio.


25/07/2025 Dormi na vaga molhada, generosamente por cortesia da Marina Gaiuta porque o tempo não estava ajudando para sair dali, pulava tanto na poita que, ao tomar um belo banho, escolhi cochilar na poltrona da Marina, enrolado na vela do Holder batizada de "storm sail".


26/07/2025 Bah! Dia ensolarado, mais faina do Helga 2, um bom e reforçado almoço perto da Marina Gaiuta e eu não tinha mais desculpas para retardar a travessia. Soltei a poita, deixei o botinho emprestado por Marcelo e Miltinho amarrado ali, e fui saindo devagar assistindo a movimentação dos M&M com um enorme barco antigo de madeira que chegou para cuidados médicos intensivos.


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Dali eu deveria, segundo Miltinho, pernoitar ancorado no lado de dentro da saída de Marambaia, na colônia de pescadores. Que delícia, que pôr do sol, que magia saber que o oceano estava ali do outro lado e já já eu sentiria aquele vento que sentira lá na Austrália 30 anos atrás.


27/07/2025 03:30h saio da cabine de proa sonolento, olho em volta aquele paraíso, volto, preparo um café solúvel frio com leite, pão com melado, banana, e levanto âncora. O motorzinho Mercury 8HP me deu um pouco de cansaço, mas também me ajudou a acordar feito um marinheiro dos sete mares, pegou, na quinta puxada. E fui saindo, contornando a saída da Marambaia, como um descobridor que chega a um continente e não tem a menor ideia o que terá do outro lado daquela bola verde acinzentada enorme se desnudando na escuridão. Do outro lado o oceano Atlântico, enorme, e a partir dali eu não teria mais direito a nada, a não ser me adaptar e sobreviver. A previsão convidava, digo, exigia, "stay put", não saia!


Primeira novidade; vento e mar entrando de frente, na cara. O Helga 2 enfiando a proa na água, dançando de lado a lado, a popa fazendo um barulhão com as batidas ao cair de cima das não tão grandes vagas, mas uma vaga é uma vaga é uma vaga, como diria Gertrude Stein.


Segunda novidade ainda antes de meio caminho da Marambaia, acabou a gasolina e eu teria que sugar o abastecimento de um conteiner de 10 litros trazido junto com outro de 20 litros extras. Eu nunca tinha feito aquela operação, ainda mais no escuro, pulando no meio do mar, sem instrumentos, sem saber aonde exatamente eu estava; mas nesse momento eu sabia não se pode parar e gritar socorro à empresa de seguro, como quando fura um pneu; levanta a vela mestra, mesmo enrugada e presa no primeiro rizo acidentalmente por um relaxamento do antigo dono. A "storm sail" ainda não estava nem no aquecimento para o jogo. Uau!!! Que legal é sentir o Helga 2 velejando, mesmo desajeitado com a popa rabeando de um lado para outro, adernando, água das ondas rolando sobre o deck a sotavento, enquanto eu acertei em cheio a primeira chupada naquela mangueirinha cedida pelo Miltinho. Era uma obra divina, resposta as minhas orações, minhas reflexões que começaram bem cedo nesta pequena aventura tresloucada. O motorzinho voltou a roncar e agora era uma música que eu adorava. Esteira da rabeta longa deixada para trás, 4 a 5 nós de velocidade, o astral melhorou a bordo e merceu uma barra de chocolate ao Comandante.


Terceira novidade: eu ficara contente com a performance do Helga 2 e da tripulação e resolvi chamar a "storm sail" para entrar em campo, completar o time. Feito isso, ela meio tímida, panejando, reclamando que o mastro era muito grande para ela, mas o Helga 2 aceitando aquilo tudo, fomos todos nos arrastando ao longo do dia. E que dia comprido foi aquele domingo. Mas avistamos a uns 100 metros uma baleia levantando o rabo para fora d´água, duas vezes, avistamos outras embarcações que passavam lá perto da costa com velas enfunadas e em menos de uma hora ultrapassavam o Helga 2 e sumiam lá na frente; ganhamos entretanto de uma tartaruga solitária, sorri para ela, que animal gracioso nadando daquele jeito e parecia decidida a ir longe. Como as coisas são relativas na vida.


Anoiteceu e com a noite vieram os verdadeiros duendes: o mar cresce, o vento aumenta, o Helga 2 não anda, parece que retorna, na verdade eu tento um outro bordo e percebo após uma hora quando retorno ao bordo original que na verdade não saí do lugar: estamos sendo empurrados para trás, andamos e não andamos; recebo spray no rosto, sinto frio, tenho um comecinho de hipotermia que me acompanha desde menino; faço exerício de respiração, rezo, estou refletindo muito sobre muitas coisas na minha vida e derrepente um estrondo no motor. Ele para. - Pronto, faltou gasolina mais uma vez. Pensei. Mas era noite, o mar estava alto, talvez um metro e meio de ondas, muito vento de nordeste ou norte, não sei, e agora? Nessa hora a gente fica todo cagado.


Ok, vamos nos arrastando Helga 2. Se tivermos que ficar aqui um, dois, três dias, ora, água temos bastante a bordo, alimento na bolsa aos pés do Comandante no cockpit dá para o gasto, biscoitos, barras de chocolate, sucos, água, bananas, latas de sardinhas... E fomos indo, olhando ao redor, olhando para o céu, olhando para a frente, para trás, no escuro, no meio do mar, bem afastados da terra, só um fiozinho lá bem longe dava para ver.


Estou nessa lenga lenga pessoal, não vou aqui relatar as reflexões íntimas, e a saudade da Helga 1, a minha preocupação com ela preocupada comigo, quando vejo um cabo preto pendurado à boreste, arrastando na água, e percorro a sua rota até... onde? Ao motor. É isso, enrolou no hélice e o motor fez aquele barulhão e parou. Num impulso natural de jogador de meio de campo, tirei as meias de lã, arregacei as calças de temporal acima dos joelhos, abaixei a escada de popa, tudo como se estivesse numa prática de guerra para a qual fui treinado, exceto que eu não tivera treinamento algum para aquela situação, e prendi a mão bem firme na escada. Me veio a mente Deus, a palavra Fé, o rostinho de minha Helga 1, tudo o que eu gosto neste mundo, a minha irmã, as minhas memórias do meu melhor amigo de todos os tempos, meu pai que está no céu, minha mãe que está com ele, meus avós, e fui descendo concentrado, um, dois, o terceiro degrau já com a água acima dos joelhos, a lanterna acesa presa na boca, o canivete aberto na mão direita e com ele mesmo fui tentando desenrolar o cabo do hélice. Não há como descrever a cena toda a não ser que foi exatamente assim que consegui em talvez uns cinco minutos ali naquela situação desenrolar o cabo do hélice, tendo espaço ainda para pensar vez e outra qual seria, em qual estaria o rumo do Helga 2, com a cana do leme amarrada mas mesmo assim rabeando para um lado e outro naquele mar grosso e ventania.

Pelo App GARMIN versão free estávamos na Barra de Guratiba e eu cutuquei com o pé o tanque de gasolina e havia uns três dedos de combustível. Puxei o arranque do Mercury 8HP e ele pegou todo orgulhoso, na primeira puxada. Alegria a bordo. Todos gritaram de felicidade e alívio, para em seguida voltar a apreensão porque teríamos que chupar pela segunda vez gasolina, agora do conteiner maior, amarrado no pulpito de popa à boreste, com a ajuda de ripinhas caçadas no lixo lá na Marina Gaiuta. Mais uma vez o Comandante acertou a sugada e até, dizem as más línguas, bebeu um pouco de gasolina para celebrar o feito. Cuspidas para bombordo, gole de água para lavar a mobília, cuspida à bombordo novamente, e vamos em frente, um cheirinho não vai me matar... Meia hora mais tarde não sentia mais nada e até coloquei uma bala de mel na boca e esqueci aquilo. Motorávamos como gente grande, nos aproximando do Recreio dos Bandeirantes, que não chegava nunca, a gente pensa que está perto e o recreio não chega nunca.


O meu maior problema entretanto era outro, não a bordo, mas porque a bateria do cell phone acabara e eu não podia checar aquela setinha e o ponto geodésico relativo a costa onde eu estava, eu pensava que fosse ali, mas não tinha certeza, e este ainda não era a minha maior preocupação; era me comunicar com a Helga 1 e lhe tranquilizar, mentir, que estava tudo bem. O silêncio, neste caso, era pior do que a mentira. Quer dizer, estava tudo bem, mas eu tinha que comunicar que estava tudo bem, passo a passo, para ela acompanhar e não ficar imaginando a realidade ali.


Comecei a conversar com Helga 2, observá-la, e intuir a sua relação íntima com a cana do leme amarrada a uma tira de eslático que inveitei para imitar um leme de vento. Ok, os dois, leme e barco, demoram uns três minutos para entrar em crise e eu apartar, é o tempo para eu descer para o interior e colocar o cell phone para carregar. Deu certo. Alegria a bordo, todos se abraçaram. Uma hora mais tarde já era possível enviar uma mensagem do Helga 2 para a Helga 1, que passou a ser chamada de Helga First. Porque eu sabia que ela rezava para nós e era isso que mantinha a tripulação autoconfiante.


Aí começou a torcida a bordo para avistarmos a Pedra da Gávea, depois o Corcovado e o Pão de Açúcar quando diríamos "casa à vista"!


Adivinha! Após infinitas horas, pudemos sorrir para o Cristo Redentor e, bem mais tarde, agradecer a Deus a aparição do Pão de Açúcar (que sacada chamá-lo assim), aí entra pelo Canal 16, do VHF manual, um Securité! Securité! Securité! O chamado pedia "por gentileza" que as embarcações nas imediações da Baía da Guanabara se afastassem 3 milhas de uma Paltaforma de Petróleo sendo movimentada. Eu estava entre eufórico e apreensivo, porque não aceitava a entrada da BG ser tão pequena, será que o Helga 2 com seus 2,5m de largura vai conseguir passar sem tocar nas bóias de sinalização, nas pedras, não mergulhar nas altas marolas, naquele vento todo, que ensaiva nos próximos dias invadir as ruas do Leblon e assustar os Cariocas? Não posso retornar para alto mar. Vou indo. O chamado informava a velocidade da Plataforma, que era um Nó a menos do que o Helga 2. Vamos ultrapassá-la. E fomos indo. Atingimos as proximidades da Ponte Rio Niterói e somos atingidos por um enorme holofote e dois apitos longos. Vieram de um navio de apoio marítimo. Em seguida ouvimos "um" apito curto. Então fizemos uma manobra para nos posicionarmos à bombordo e a ré daquele navio para que ele passasse sob a ponte; primeiro as damas.


E fomos nos infiltrando por entre aquela festa de navios petroleiros iluminados, parecia uma boate. Buscávamos a Ilha de Paquetá e tivemos uma surpresa a bordo: o Comandante não sabia identificar à noite a Ilha de Paquetá. Tinha referências, os contornos de São Gonçalo, os contornos da REDUC do outro lado, e as senhoras pedras que decoram esse imaginário mágico, de literatura e música, simplicidade e arrebatamento chamado Ilha de Paquetá. Foi então que me veio à mente uma poesia, postada mais tarde no Facebook:


"Pedi licença à Netuno e Iemanjá para rebatizá-lo Helga 2. Acabei de trazê-lo de Angra para reparar alguns arranhões que a vida anterior lhe deu. Aqui vou tratá-lo com carinho no ritmo cicardiano local, porque Paquetá não é uma ilha não, é um satélite brilhando no céu em torno do planeta Brasil".


Não cabe aqui relatar as próximas gotas d´água de sal a não ser que ancoramos às margens do Iate Clube de Paquetá, 1:30h de segunda-feira, totalizando 21 horas de travessia desde Marambaia.

E mais uma vez, ao invés de sermos castigados pela imprudência de viajar naquelas condições, recebemos o carinho de duas almas especiais: Ronaldo me emprestou uma âncora, até que a minha adquirida da HW Âncoras chegasse; Celso me recepcionou com o calor humano dos Hawaianos, nascidos na Região do Café do Norte Fluminense, com a sua Wahine Manoela.


- Como é bom fazer amigos!

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