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Lovelock para Peazê: “tudo o que podemos fazer neste planeta é sobreviver”

Atualizado: 9 de mar. de 2022


Do Rio de Janeiro, por telefone, tive o privilégio de entrevistar James Lovelock, este século estava dando o primeiro guincho e, naquela época, o octogenário cientista independente me atendeu, após trocarmos emails, como se estivéssemos conversando numa varanda, ou no cockpit de um veleiro. James Lovelock estava em sua casa em Dorset, sudoeste da Inglaterra, no Canal da Mancha.


Este ano ele completará 101 anos e dizem as más línguas que está para lançar mais um livro. Quando eu nasci, em 1958, ele inventou uma trapizonga chamada de Detector de Captura de Eléctrons, o que veio a facilitar a compreensão do CFC (clorofluorcarboneto) e sua capacidade de furar a camada de ozônio da Terra, essa capa que não enxergamos mas que está em frangalhos lá em cima, ao redor de toda a gente.


Lovelock produziu centenas de estudos comprovados, na esfera científica, trabalhou no nascimento e primeira infância da NASA, e, ao aposentar-se dos laboratórios oficiais, tornou-se o primeiro ou talvez único cientista contemporâneo independente, trabalhando em casa. Eu diria, um Copérnico, olhando para cima e para longe, e tecendo teorias. Mas ficou mais conhecido por sua teoria de que a Terra é Gaia. Na mitologia grega, a Deusa-Mãe Gaia (ou Gaea), era a personificação da Terra. No final dos anos 1970, Lovelock vislumbrou Gaia como um sistema dinâmico em simbiose orgânica e inorgânicas que mantem o equilíbrio da biosfera.


Perdi recentemente todos os meus dados junto com meu notebook e outros gadgets, coisas da vida, pequena tragédia pessoal fruto da minha burrice, mas lembro bem que uma das primeiras perguntas que fiz ao James, foi: - posso lhe chamar de James? Ele respondeu-me serenamente que sim e pude sentir o seu sorriso simpático.


Recentemente o Facebook me lembrou do artigo que publiquei, resultado da entrevista, mas o link já estava perdido também por conta de eu ter trocado de provedor e, mais uma burrice me fez perder alguns back ups.


Entretanto, há coisas que a gente não esquece. Essa conversa com o Lovelock é uma delas, para mim. Ainda lembro do som de sua voz, por exemplo.


Estudara um pouco, antes de ligar para o homem e não resisti a mais uma brincadeira infame, para quebrar o gelo, em mim mesmo. Pedi para ele confirmar se realmente pegou o Stephen Hawking no colo. – Sim, é verdade, trabalhei com seu pai “you see…” – e, talvez para me realinhar, ele me deu um drible psicológico que às vezes me pego pensando. Emendou um comentário na sua resposta acima:


"- estou curioso para ouvir o que você escreveu no email, que vê a Terra como um grão dentro de uma gota d´água gigante, eu assumo que esta água esteja em estado gasoso na sua mente, ou o quê?”


Fiquei desnorteado, descrevi a minha teoria fraca e simplória sem a menor retaguarda, nem empírica, lhe fiz as perguntas que havia listado para fazer, e produzi um artigo - guardando aquele naco de conversa.


Na mesma época, eu havia passado uma semana cobrindo “ações diretas”, leia-se “vandalismo com bandeiras de protesto ecológico” de um movimento chamado Grito das Águas, no interior de São Paulo. Uma delas foi retirar uma caçamba de lodo do Rio Tietê e despejá-la na entrada

do prédio da companhia de água e esgoto de São Paulo… Um exército de Brancaleone conseguiu reunir personalidades e especialistas para um congresso “beatnick” num sítio, veja só, coincidentemente onde Mario de Andrade refugiara-se para escrever o célebre Macunaíma (essa é outra história, crônica). Entre eles estava o Dr. Emoto, japonês que fez experiências fabulosas com cristais de água, mostrando que a energia de fontes como “palavras com significado, adjetivos, substantivos”, “sons”, “ternura ou agressividade”, pode ser lida pelas moléculas de água, que se alteram, formando desenhos magníficos ou assustadores, dependendo do contexto da energia a que são subm


etidas. Fiquei colado no Dr. Emoto pelo menos três dias, visitando fontes de água na região de Pindamonhangaba, exatamente a região sobre a parte mais robusta do Aquífero Guarani.


Minha descrição para Lovelock foi a de que intuo que a Terra sendo um grão dentro de uma enorme gota d´água, seja lá qual for o seu estado, sólido, líquido ou gasoso, ela está sujeita a uma força universalmente poderosa de soma de energias, e eu não sabia que a termodinâmica já estudava algo nessa direção…


Mas o mais marcante, da entrevista com Lovelock, foi o mais simples e dito para mim ao final de um pouco menos de uma hora de conversa, quando lhe perguntei o que fazer, se ele estivesse certo quanto ao número de pessoas vivendo no planeta levar a vida a um ponto insustentável, não somente no aspecto climático, mas de relacionamento interpessoal, geopolítico, religioso, de gênero, de ideologia, de comportamento... Disse-me Lovelock:

- Tudo o que podemos fazer, Peazê, é sobreviver.



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