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Noticia e Informacao contextualizadas
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A vida quebra a todos, Os ombros suportam o mundo, Simone, Hemingway e Carlos Drummond de Andrade


Tó veio cá ter comigo e me dar aulas de biorritmo. É, meu vizinho, dedicado à paciente arte do bonsai, quando não está entretido com cálculos da qualidade da água ao equilíbrio físico e mental, intelectual e emocional do ser humano – é verdade, fôlego – cultiva em bandejas plantas que lhe demandam pinçar os brotos e outras técnicas, para educar o crescimento miniaturizado copiando a natureza em tamanho fractal. Tó veio cá e presenteou-me com o meu próprio biorritmo, segundo o qual hoje eu não deveria escrever, não estou criativo, fértil, estaria saindo de uma fadiga física, emocional, intelectual e com a intuição fraca, provavelmente esquecido de muita coisa e eu concordo, não vou jogar no milhão. Mas escrever é preciso, daí meus ombros caem sobre este teclado e lembro do meu nobre amigo Drummond, socorro, me empreste seus versos: “Teus ombros suportam o mundo, e ele não pesa mais do que a mão de uma criança”.


Este seu poema foi escrito às vésperas da Segunda Guerra Mundial, e Drummond era dado também a pessimismos ocasionais, felizmente nos toca mais frequentemente com delicadeza e esperança como em “o mundo é grande e cabe no breve espaço de beijar”. Mas esse peso nos ombros foi-me lembrando pelo vizinho Tó, como prefere ser chamado e eu vou acrescentar-lhe outro tó – Totó – sincopado, até que ele me explique onde veio esse samba de uma nota só.

Vem por email um desabafo de Simone Biles no site Sapo (Fonte AFP) "Às vezes, sinto que tenho o peso do mundo em cima dos ombros" e Tó crava o seguinte: “Considerando que a prova ( da Simone Biles) se realizou dia 26, pela hora do Japão, o que com as diferenças horárias seria dia 25 no USA, o biorritmo de Simone mostra claramente um período “pró-depressivo” devido ao seu Emocional em baixa e que se manteria nos dias seguintes, justamente em que ela decidiria manter a desistência de provas. Mostra também a necessidade de um treino para superar estes períodos “down”, fazendo lembrar o nosso caríssimo *Fernando Mamede que poderia ter sido um bom digno sucessor de Carlos Lopes nos 10.000m e na Maratona, mas a sua “cabeça” em várias provas deixava-se levar pelo seu baixo emocional e acabava por desistir durante as corridas, tendo contudo ganho imensas provas de 10.000 com bons tempos internacionais… “

A teoria do Biorritmo defende que a vida de cada indivíduo é composta por ciclos biológicos de modo que seria possível descrever e prever os exatos pontos e tendências negativas e positivas de cada estado específico, físico, emocional, intelectual e até mesmo místico, ou intuitivo. Se é um pensamento cartesiano reducionista, não importa, todo o suporte a autoanálise é bem-vindo e Tó me ensinou a calcular o biorritmo de qualquer gajo ou gaja a partir da data de nascimento. Difícil será calcular o biorritmo de 250 milhões de pessoas e arrumar o Brasil, mas prometo sonhar com isso. Enquanto me chega à subcave direita da António Ferreira 13, no Bom Retiro, bem em oPONTO o cálculo do biorritmo de Simone Biles à data em que ela desequilibrou-se e mudou o texto das manchetes mundiais das Olimpíadas. Arrancou artistas da poltrona, trouxe-lhes para a arena dos desportos, arrancou gente de toda sorte de outros afazeres para debruçarem-se sobre questões emocionais que afetam a performance física, buscou no fundo das vaidades de atletas a solidariedade e é neste ponto que eu queria chegar, mas a fadiga para escrever não me permitiu, empurrou-me a digitar sem rumo, sem nexo, sem pretexto, ponto, ponto é bom e eu gosto, ponto.

Em tempos de impacto socioeconômico sem precedentes em que apenas duas modalidades de atividade humana ganham exponencialmente muita riqueza, Financistas (leia-se J.P.Morgan e adeptos) e os conglomerados da Farma-Indústria (química, laboratórios e farmacêutica), em tempos em que a fome ainda mata e faz nascer crianças tragicamente raquíticas à beira da morte, tempos em que um “meme” bobo entretém mais do que qualquer poema, não custa, mesmo assim, lembrar da primeira estrofe daquele Drummond derradeiro de 1940:

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo de em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco.”


Tom afinado com Hemingway de quem pude traduzir Por Quem os Sinos Dobram: “O mundo quebra a todos e depois muitos tornam-se fortes nas partes quebradas. Mas aqueles que não quebram, ele mata. O mundo mata todos os bons e os delicados e os muito valentes indiferentemente. Se você não é nenhum desses pode ter certeza que o mundo lhe matará também, mas não tenha pressa”.

A Simone chora hoje, a Evita Perón chorou, o Guga chorou, o Pelé, até eu chorei Simone. Tem dias que a gente chora, tem dias que a gente ri, tem dias que a gente fica pensando na morte do bezerro…


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* Fernando Eugénio Pacheco Mamede (Beja, 1 de novembro de 1951), mais conhecido por Fernando Mamede, é um antigo atleta português, que participou nos Jogos Olímpicos de 1972, 1976 e 1984, nas provas dos 800, 1500, 10000 metros e estafetas 4x400 m.[1] Atleta do Sporting Clube de Portugal durante toda a sua carreira, bateu recordes internacionais de atletismo. Foi um dos fundistas portugueses com maior relevo, e deteve o recorde mundial dos 10000 metros entre 1984 e 1989. Apesar do seu reconhecido talento natural, nunca conseguiu ultrapassar as barreiras psicológicas inerentes ao desporto de alta competição, conseguindo apenas medalhar por uma ocasião, em grandes competições internacionais…









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