John Hemingway - Publicado em 17/01/2015 07:01
Categoria: Cultura & Comportamento Contexto: Política Internacional, Cultura
[PHOTO] Ernest Hemingway relaxes at his home in Cuba, Finca Vigia.JFK-EHEMC
Se os oito anos do governo do Presidente Obama forem lembrados por qualquer coisa positiva, talvez sejam pela sua postura, e coragem, em relação a Cuba.
Originariamente publicado no Huffington Post em 16/01/2015
Por John Hemingway tradução de Luís Peazê
Lembro que um amigo da Califórnia me enviou um alerta, em 17 de dezembro (2014), dizendo que os EUA e Cuba estavam a ponto de libertar alguns de seus prisioneiros, num gesto de que melhores tempos estavam por vir. Mas, como todos sabem, não se tratava somente de uma mera troca de prisioneiros. Era o resultado de negociações intensivas e secretas entre os dois países, para abrirem tudo o que legalmente pudesse ser aberto, rescindir aos poucos o embargo comercial. O Presidente Obama estava indo aonde nenhum Presidente Americano já foi em mais de 50 anos, na busca da completa normalização das relações com entre Cubanos em Americanos. Eu devo admitir, entretanto, que até o momento não tenho sido um grande fã da administração Obama. Em sua política doméstica e exterior há muito pouco que a distingue da administração Bush. Mas Cuba é diferente. Cuba muda tudo. Se os oito anos do governo do Presidente Obama forem lembrados por qualquer coisa positiva, talvez sejam pela sua postura, e coragem, em relação a Cuba. Na verdade, foi revigorante finalmente ver um presidente Americano admitir que o embargo comercial dos EUA tem sido um fracasso total. Os irmãos Castro ainda não foram derrubados do poder, e o resto do planeta vem arrecadando dinheiro de iniciativas do turismo e outros investimentos. Somente homens de negócios Americanos, com poucas exceções, tem disfarçado que não há uma ilha a 90 milhas de Key West com uma população de 11 milhões de pessoas, que costumavam comprar, dos Estados Unidos, quase tudo o que precisam.
O mercado cubano para americanos eram tão bom, antes da Revolução e do embargo comercial, que você poderia encontrar os últimos modelos Buicks e Cadillacs em Cuba, antes de encontrá-los nos Estados Unidos.
Mesmo assim, o embargo comercial e as restrições de viagem tem tido sucesso em uma coisa. Tem restringido a maioria dos não-cubanos-americanos de viajarem para a ilha. O que é insano, quando você se dá conta do quanto os dois países tem em comum, cultural e historicamente. Nossos laços são muito maiores do que as razões que nos separam.
Como um dos netos de Ernest Hemingway, fui lembrado disso quando visitei Cuba pela primeira vez em setembro de 2014. Eu e meu irmão Patrick viajamos com um grupo de biólogos marinhos e ambientalistas, para comemorar o 80 º aniversário da primeira vez que nosso avô trouxe seu barco de pesca, o Pilar, para Cojimar, em 1934; e o 50º aniversário do seu Prêmio Nobel de Literatura.
A demonstração de boa vontade e carinho que recebemos, quando visitamos Cojimar, e a casa de nosso avô, Finca Vigía, foi alguma coisa muito além do que pudéssemos imaginar. O povo cubano considera Ernest Hemingway como um deles e reverenciam o homem, sua obra e tudo o que ele deixou na ilha.
Em 1956, nosso avô doou ao povo cubano sua medalha de outro do Prêmio Nobel e, desde aquela época, a medalha tem ficado na Capela dos Milagres da Catedral de Santiago de Cuba. Durante nossa visita, em setembro, o Bispo da catedral concordou em transladar temporariamente a medalha para Finca Vigia, para que eu e meu irmão pudéssemos vê-la e até segurá-la em nossas mãos.
Foi um momento que nenhum de nós jamais irá esquecer. Fomos capazes de tocar fisicamente numa parte do passado de nossas famílias, e constatar a importância que o autor de O Velho e o Mar continua exercendo como uma ponte entre os dois países. Sem dúvida, ele ficaria feliz de saber que os Estados Unidos e Cuba estão, finalmente, avançando e conversando entre si novamente. Os povos cubanos e americanos só tem a beneficiarem-se econômica e, em especial, culturalmente com essa nova relação.
Um novo dia chegou e, se de alguma modesta forma nós contribuimos para isso, com a nossa visita a ilha, então eu acredito que honramos de verdade a memória de nosso avô.
Este artigo é parte de uma série do blog Huffington Post chamada "90 Miles: Rethinking the Future of U.S.-Cuba Relations." (90 milhas: repensando o futuro das relações dos Estados Unidos e Cuba). A série coloca holofotes nas relações emergentes entre os dois antigos inimigos do Hemisfério Ocidental e contará com o pensamento de notáveis líderes dos setores públicos e privados, academia, a comunidade das ONGs e proeminentes observadores de ambos os países. Leia todos os artigos da série here.
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