Na indústria de palavras, números mentem.
Li “Isso é triste”, primeiro sintagma de uma publicação, desculpe-me, “post”, no LinkedIn, sobre a série histórica do mercado da CBL/SNEL, emendado à “faturamento do setor editorial brasileiro cai 43% em termos reais desde 2006”, e não resisti comentar, enquanto a mudança das regras tributárias era votada no teatro Câmara dos Deputados do Distrito Federal.
Mas quando começo a digitar aqui, reparo na descrição da Cesta Básica, muito redundante naquela mudança de tributos que não contempla um produto essencial para a nutrição, sanidade, saúde. O livro! Se pelo menos o didático estivesse incluído, que os demais fossem para a lista dos taxados com Impostos do Pecado (é mole?). Aliás, gíria ou expressões da coqueluche vigente é o que não faltam nas iniciativas do Estado como “desenrola” e outras...
Cesta Básica: arroz, feijão, carnes, farinha de mandioca, farinha de trigo, açúcar, macarrão e pão comum; mandioca, inhame, batata-doce e coco; café, óleo de soja e óleo de babaçu; manteiga, margarina, leite fluido, leite em pó e fórmulas infantis definidas por previsão legal específica…
Mas quem sou eu para sonhar com algo que não se desmanche no ar, se nem o Thomas Moore conseguiu sequer fazer a “galera” sonhar com uma sociedade sem propriedade privada e intolerância religiosa. Utopia à parte, eu sonharia ainda (esperança é a última que morre) a inserção da nossa etnia original, direta ou indireta, os índigenas minha gente, somos todos índios aqui em Pindorama, do útero, do sangue ou da convivência com esta mina de ouro que é este pedaço da Pangea, defendo a língua e cultura Guarani inseridas no ensino
fundamental.
Conforme o PNE, a determinação legal (Lei nº 10.172/2001, Art. 32: formação do cidadão, mediante: I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores...
“Xa pra lá”, voltemos aos trocados, conforme ia dizendo:
Aquela série histórica, da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, aponta “queda acumulada do faturamento das vendas, do mercado editorial, de 20% desde 2019 (…)”.
As editoras teriam registrado, assim, R$ 4 bilhões de faturamento nas vendas ao mercado. Claro, o relatório considera o desempenho real das editoras nos últimos 18 anos em quatro subsetores: Obras Gerais, Didáticos, Religiosos e CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais).
Na indústria das palavras os números, no Brasil, mentem, ou no mínimo são tão contraditórios quanto as letras que choram, assim como o déficit de alfabetismo cultural, leia-se "ler é bom para diminuir este déficit", vai de mal a pior e é aqui que mora a coruja. Eu concordo, muitos apostos, se não doer muito leia novamente, mea culpa, obrigado.
Se esse resultado apontado pelos amigos da CBL/SNEL cravam 43% negativos no faturamento nos últimos +-20 anos, então por um silogismo simplório podemos dizer que a venda de livros (editora vende livro, né?) diminuiu tudo isso, mesmo que em diferente proporção; porque não foi o preço do livro que baixou, foi então a venda desse significante, de papel, que tanto me diz respeito, há décadas. Indo tão longe assim, lembro de um resultado catastrófico, do ano 2000 (um quarto de século atrás), o preço do papel aumentara 73% naquele ano, relatório do setor no mês do cachorro louco, agosto (meu mês), e se referia a uma análise desde o janeiro antecedente. O texto da notícia fúnebre justificava a causa mortis o preço da celulose, claro. Insumo do papel, como a palavra é do livro.
- Dou um pulo ao presente e constato que os 4 bilhões de faturamento de livrinhos (Editoras) são "peanuts" comparados aos 250 bilhões da indústria de celulose (ok, papelão, embalagens etc inclusos, mas e daí?), diga-se de passagem o Brasil é o maior exportador de celulose do mundo (se exporta tanto, encarece o estoque interno), com seus 10 milhões de hectares plantados. Vale lembrar que uma árvorezinha aqui onde o sabiá gorjeia melhor pode ser cortada com 6 ou 7 anos, enquanto nos países nórdicos, Rússia e Canadá somente a partir da menarca (lá acima dos 12 anos)...
E dizer que produzi o Mundo do Papel e A História da Tipografia no Brasil (dois livrinhos muitos caros na minha biblioteca sentimental) quando estava sendo “domesticado” (não conseguiram) para ser executivo do topo da Cia de Papel Pirahy, e semanas atrás um ex-dirigente me contou que a empresa foi vendida, ano passado, para a China. – Óh, chinês fabricando papel no Brasil, chinês enfiando tiquetóc na gente, chinês pescando em nossas águas continentais e exportando dali mesmo, de seus navios pesqueiros, para nossos supermercados, os espanhóis fazem isso também (porque não temos frota pesqueira para atender as cotas da IMO & FAO), mas isso é outra história, embora naquela “mudança de lei tributária”, o atum não seja incluído na cesta básica; como se os Deputados soubessem descrever a extensa gama de pescado que o atum é.
Voltando à vaca fria, acabo de cotar com gráficas na minha querência, RS, na Paulicéia desvairada e na Baixada Fluminense a impressão de dois livros, um eu não digo agora, o outro é o best seller Alvídia – Um Horizonte a Mais (356 páginas de 15x23, grandão, 13ª. edição (1ª.
2000) e me saem o dobro e até mais aqui em Terra de Santa Cruz comparados com a Amazon Florida.
Por quê? Explicação 1): demanda arquitetura fiscal desumana (driblar ou conviver com os tributos e encargos sociais) da indústria de palavras com natureza jurídica “Editora” e “Gráfica”; 2) matriz logística, só quem já andou com uma biblioteca particular nas costas mudando de país em país, três
no meu caso, sabe como manipular e transportar livro dói.
Então, se eu fosse resumir "um horizonte a mais" para o setor de livros (didáticos, literatura e correlatos) eu diria que devemos apontar (estimular, lutar com unhas e dentes) para: 1) a leitura, ponto final; 2) reduzir e em alguns casos acabar com taxas, dar incentivos, fazer deduções, o diabo a quatro, para a produção de livros de um modo que
esse estímulo comece desde a ejaculação do setor até a mesa de parto, a amamentação e primeira infância e vida adulta, isto é, desde a floresta de madeiras de fibras curtas e longas, à celulose para o papel para livros, até a distribuição dos meninos e meninas e "in betweens", digo, livros nas livrarias, casas do ramo e fora do ramo.
Dica para as minhas amigas Editoras: eu sei que marketing & comunicação para o produto livro não é nada parecido com vender manteiga, o “target” do livro é muito, muito mais escorregadio, difícil de pegar pelos cabelos, pelo rabo; pela mente então, nem se fala; mas sugiro criar “tokens” para livreiros promoverem o tráfego (se me consultarem eu explico melhor), pensarem a sazonalidade fractal, em escalas menores, e outras ideias que não me faltam. E a compra na própria Editora, minhas amigas. Seus websites não vendem. Porque essa timidez com o home-marketplace? Criar tokens também para o próprio target, é, inventar um meio de fazê-lo ganhar o que quer que seja recomendando livros, mesmo quem nunca lerá além da orelha.
Que pena né, não deu certo vender livros em vending machines, é fogo. - Um dia eu sugeri que livros fossem vendidos em açougues do Rio, riram de mim, e eu rio até hoje. Disse aquilo quando lancei (2000) independente a partir da Casa de Cultura Lauro Alvim para o mundo
, o meu primeiro best seller "Alvídia - Um Horizonte a Mais" resenha do amigo "RIP" Moacir C. Lopes (A Ostra e o Vento), lido em Beverly Hills pelo Andy Garcia (ator e diretor de Hollywood), pelo tal de Alan Clarke, tradutor e ex-agente de Paulo Coelho, e outras personalidades mas com muito carinho especial pelo tantos leitores que se tornam meus amigos Brasil afora e além mar. Veja aqui!
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