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Luís Peazê

Na Rússia, no mundo, o Futebol derrota o Estado de Direito por 10 x 0


A reportagem de Ricardo Senra da BBC não deixa dúvidas, Futebol 10 x 0 no Estado de Direito: através dessa organização criminosa que é a FIFA, a franquia Futebol passa por cima do Estado de Direito de pessoas em todos os países do mundo em que ela entra em campo.

Numa tarde de quarta-feira qualquer, meses antes da Copa do Mundo do Brasil começar (2014), fui acomodado na enorme sala do Professor Cândido Mendes, no edifício da sede principal da sua Universidade na Rua da Assembléia 10, Centro do Rio de Janeiro, para conversar com o Constitucionalista antes de publicar meu livro. Não se tratava de um professor apenas, nem de um simples especialista em Direito Constitucional. O Professor Cândido Mendes, entre tantos títulos, membro da Academia Brasileira de Letras, foi membro da Comissão Afonso Arinos, um dos redatores do projeto da atual Constituição da atual Constituição Federal de 1988. Ouvi dele a história que envolve o texto desta Carta Magna, digna de um artigo à parte, o contexto sócio-político à época e antecedente à mesma, as Constituições anteriores, o Brasil como um todo mais orgânico e semovente do que nunca, mas não é este o objetivo aqui. Lembro que aproveitei e levei debaixo do braço também uma cópia do primeiro projeto de Constituição Brasileira, de D. Pedro, para imantar o ambiente no mais amplo sentido...

Eu fui conversar com o Professor Cândido Mendes, após ter colhido contribuições de personalidades importantes para o livro e suas observações seriam fundamentais, as publicaria de qualquer forma se fossem positivas ou negativas, se ele por acaso destruísse todas as minhas teses e meus ângulos de raciocínio e compreensão do arcabouço legal que rege Indivíduos e Estados em geral. Eis o que aconteceu:

- Não pode! – disparou o professor, assim que comecei a narrar o objeto principal de meu livro reportagem, e emendou – A Constituição está acima de qualquer órgão, associação e do próprio Estado em todas as suas esferas, é antes de tudo do Indivíduo e para este dentro do Estado, o próprio Estado é para o Indivíduo na sua essência. Seu livro não tem lastro.

Aí eu enfileirei uma sequência de fatos relevantes de ultraje da FIFA sobre o Estado de Direito, com um ponto de interrogação após cada fato e o professor ficou visivelmente excitado, levantou-se e tirou da própria estante uma cópia da Constituição de que foi o personagem histórico e começou a mostrar-me como aquilo não poderia estar acontecendo, se eu estivesse certo -- e eu estava, mostrei-lhe os adendos inclusive a normas alfandegárias, regulamentos consulares, leis de imigração e na declaração de imposto de renda -- uma agressão à Constituição, em suma, uma goleada no Estado de Direito, sem falar o fato de os times, associações nacionais, não poderem tomar certas decisões sem o consentimento da poderosa FIFA.

Uma hora de conversa animada, parecíamos dois universitários entusiasmados discutindo uma possível tese para um trabalho de fim de curso. Antes de deixar o Edifício Cândido Mendes, recebi das mãos do Professor que lhe dá o nome, um exemplar autografado pelo autor; Subcultura e mudança: por que me envergonho do meu país.

Da BBC News Brasil, em Rostov-on-Don (RUS) 17/06/2018 10h40

Em Rostov-on-Don, onde o Brasil estreia na Copa do Mundo da Rússia, neste domingo, pelo menos dez quadras em ruínas, com barracos de madeira e muito lixo separam o principal ponto de encontro de torcedores da imponente arena Rostov, uma estrutura de vidro e metal de 51 metros, o equivalente a 16 andares, construída especialmente para o evento por 19,8 bilhões de rublos, ou R$ 1 bilhão.

Esta reportagem começa por acaso, quando a BBC News Brasil chega à cidade portuária e, após perceber que não conseguiria almoçar na Fifa Fan Fest - onde as opções se resumem a cachorro-quente, pipoca, hambúrguer, refrigerante e cerveja - e decide buscar um restaurante local.

O mapa mostra que a caminhada até a beira do rio Don, cartão postal da cidade, levaria menos de 15 minutos. Mas, após menos de 100 metros, este repórter percebe que não encontrará restaurantes ou lanchonetes - nem esgoto tratado ou água encanada existem na maioria das casas do local.

Se no cercadinho oficial da Fifa há telas gigantes de led, pufs com gosto duvidoso em formato de bola de futebol, espaços climatizados para proteger convidados do calor de 34 graus e centenas de torcedores acompanhando jogos e shows em telões barulhentos, os quarteirões seguintes são marcados por silêncio e destruição.

Nas ruas praticamente desertas, idosos com as costas curvadas carregam baldes cheios em torneiras enferrujadas que aparecem em algumas esquinas.


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