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Cláudia Morinico

artesã da Aldeia Guyra Nhandu Guarani Mbya, litoral norte do Rio Grande do Sul

Matéria-prima/Técnica:

  • Elementos naturais / Desidratação

  • Fibras vegetais / Bambu

  • Porongo / Típico Regional

  • Sementes 

  • Madeira 

Produtos:

  • Bainhas, Cestos e Bichos de Madeiras.

  • Feitos com taquara e fibras de Embira, sementes Olho de Cabra, Lágrima de Nossa Senhora, Pau Brasil e outras variedades.

Guarani, dos Tupi, a tradição.

Canto Porta Voz da Tradição GuaraniToque para ouvir
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o Guarani é vinculado ao Tupi, uma diversidade de povos que habitavam o litoral do Brasil. Se originam de antepassados que saíram há milênios do centro amazônico, expandiram-se ao norte do rio Amazonas, ao sul pelo Paraguai, a leste pelo Tocantins e a oeste pelo rio Madeira. Os Tupi migraram para o leste, para alcançarem a região costeira do continente sul-americano.

 

A contemplação da cultura Tupi-Guarani, seus movimentos ocupacionais da terra evitando naturalmente a entropia, somados às crenças e saberes humanos próprios são um tesouro ignorado pelo homem que se diz "civilizado".  Nas bibliotecas físicas e online na grande rede www há fartura de provas dessa afirmação pessoal. O respeito a uma abelha, sua ligação com o mel, a polinização, inclusive o som do bater de suas asinhas, e o simbolismo espiritual disso tudo, mistificado por conceitos do olhar moderno; a sua relação com a água que, entre tantas importâncias, e novamente o som, vincula a origem da vida, desde o primeiro ciclo menstrual das índias, até o parto, abrange uma riqueza tal que permeia a poesia em carne e osso. Há muito mais para apreciar, ouvir...

Mas esta densidade toda vem se extinguindo gradualmente, desde que o europeu fincou sua bandeira neste pedaço da Pangea.

Um salto para a realidade demográfica: há aldeias indígenas em 15% dos muinicípios brasileiros; 1% da nossa população é indígena, segundo o último senso do IBGE, 280 mil Guarani distribuídos em comunidades, aldeias, bairros urbanos ou núcleos familiares em quatro países; 85 mil no Brasil, 83 mil na Bolívia, 61 mil no Paraguai e 54 mil na Argentina. Aos olhos de um indivíduo urbano, e mesmo rural, ordinário, todos os indígenas vivem em condições precárias. Um dado que não pode fugir de qualquer observação honesta é a impossibilidade de um utópico regresso progressivo para as comunidades indígenas, isto é, terem apoio institucional, do governo, de iniciativas privadas e do contribuinte comum, para retornarem ao que eram, genuinamente, infelizmente.

A declaração recente da Presidente da FUNAI, Joenia Wapichana, para a Agência Brasil, é pontual, mas apenas tangencia as demandas das etnias indígenas: “A proteção para que os povos indígenas continuem a existir com as suas próprias identidades, e que não sofram violência porque são indígenas, é a grande demanda dos povos indígenas. Creio que continua sendo a número um. E que os direitos alcançados na nossa Constituição não sejam rasgados, nem retrocedidos”. 

A lista de precariedades em que vivem, além da discriminação revelada nos silêncios do texto da FUNAI, é óbvia: moradia (não apenas demarcação de terras), alimentação, vestuário, saúde e escolaridade; a partir dessas categorias de necessidades básicas a problemática cresce exponencialmente.

Quanto à "identidade", em O Punhal de Pedra, meu romance que inspirou-me a apoiar a causa Guarani, a revelação de um dos protagonistas é ilustrativa: o fio condutor, similar ao clássico Macunaíma, é uma pedra sagrada para os Guarani, que teria sido deixada por índio diante de uma caverna paleolítica localizada em algum lugar entre Tapejara e Encruzilhada do Sul, RS. A busca de um personagem central provoca vários encontros não acidentais e reveladores, um deles é a  seguinte reflexão:

- O personagem acredita que as aldeias Guarani e provavelmente de outras etnias desaparecerão, num futuro qualquer, porque é plausivamente impossível imaginar o mundo retroagir aos modos originais de habitats, usos e costumes. Aquele personagem também acredita que, se as Aldeias continuarem a viver como vivem hoje, é porque o espírito Guarani poderá sofrer tanto que morrerá num futuro próximo, uma tragédia. Entretanto, se as Aldeias desaparecerem porque houve melhoria de vida e respeito humano para seus membros, é porque também houve sucesso no esforço para que o Espírito Guarani permaneça perpétuo.

Cláudia Morinico, artesã da Aldeia Guarani Mbya Guyra Nhandu, foi escolhida para significar meu modesto apoio à causa Guarani, pela disposição dela ir ao mato, lá em Torres, RS, e colher a embira para eu adornar "o punhal" que ilustra a capa de O Punhal de Pedra, tal qual meu avô descrevera para mim na infância e inspirou-me a (re)construir essa história, um romance pseudo-jornalístico e cultural étnico. - Cláudia Morinico tem três filhos e produz artesanato como atividade de subsistência.

Luís Peazê

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